quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Nas dunas com "Gisele Bunchen"


O texto abaixo narra sobre uma viagem a Natal, no Rio Grande do Norte, em fevereiro deste ano:


“Cento e dez, 120, 160, só pra ver até quando o motor agüenta”. O bugão seguia todo veloz pela BR 101. Motorista: um potiguar simpático conhecido como Veríssimo. Passageiros: família de turistas goianos mais que empolgados por estarem em uma cidade litorânea. Na lente dos óculos escuros eu avistava o “corgão” no horizonte, todo imponente.
Estava em um município a 2704 km da capital goiana. Denominado de “Cidade do Sol” que é literalmente Natal o ano todo. Lugar onde o astro solar nasce mais cedo, às cinco da manhã e vai embora antes das seis da tarde. Famosa pelas praias limpas e dunas que são motivos de pauta para programas esportivos de televisão.
Já tratei de comer uma tapioca no café da manhã para dar uma “sustância” ao longo dia que tínhamos pela frente. Um passeio de buggy de 44 km, com duração aproximada de oito horas pelo litoral norte potiguar, passando pelas dunas de Genipabu, Redinha, Graçandu,Pirangi, Jacumã e Muriú.
Da BR passamos pela costa e pude notar o contraste do verde no meio da areia. Noventa por cento da vegetação que existe nas dunas é de caju. Fruto famoso naquelas terras, além de ser uma fonte de renda no comércio de castanhas, doces e delícias culinárias. Não é a toa que a região é berço do maior cajueiro do mundo, alvo dos flashes dos turistas nacionais e internacionais.
“Pouca, média ou muita emoção?”, indagou Veríssimo ao se referir à intensidade da velocidade do buggy ao subir e descer as dunas. Paizão optou pela média, antes de eu abrir a boca para pedir sensações mais emocionantes. Mas valeu a pena, numa dessas curvas quase foi embora o chapeuzinho que havia comprado especialmente para aquela ocasião.
No caminho, cercas caídas pelas areia: “querem privatizar nossa natureza”, exclamava indignado, o buggeiro ao se referir a uma briga judicial de uma empresa na região que alega ser proprietária da “obra”. Grande parte do turismo daquela região é comandado por estrangeiros. A força econômica está com eles, já a força de trabalho fica por conta dos nativos.
Ao passar por Graçandu avistávamos um povoado de pescadores. A pesca é fonte de renda de grande parte da população interiorana. Do outro lado da rua, se encontravam sobrados mais sofisticados. Uma rua e, ao mesmo tempo, um abismo social e espacial.
Bem humorado o buggeiro, que não tem um buggy (custam na média de R$ 50.000 e pertencem às cooperativas) virou pra gente e falou: “Os dali são os marajás. Os daqui são os maracujás”.
As risadas foram inevitáveis, mas a piada me motivou ao refletir sobre a população potiguar. Aos olhos de um turista fascinado tudo pode parecer muito belo, mas se não fosse pelo turismo boa parte dos cidadãos ali não teriam uma fonte de renda.
Depois, embarcamos em uma balsa na lagoa de Ceará-Mirim: transporte altamente tecnológico. Um “motorista’ que nos aguardava para levar o buggy ao outro lado da lagoa se gabava do seu artefato tecnológico: “Tá vendo nossa tecnologia gente? Tecnologia de ponta. Ponta de vara”.
Vale ressaltar que, antes que o leitor tenha alguma conclusão precipitada, nosso colega se referia ao remo de bambu da balsa. Mas um dos momentos mais emocionantes do passeio ainda estava por chegar, na lagoa de Genipabu. O bugão fez mais uma parada para foto, mas uma criatura ali me chamou a atenção.
Tinha um jegue no meio do caminho. No meio do caminho tinha um jegue. Um cidadão nos convidou para tirar uma foto em cima dos animais que ali estavam. Disseram que não precisava pagar para tirar uma foto com os bichinhos, mas uma “ajudinha” seria bem-vinda.
Olhei para o jegue com uma coroa de flores na cabeça e fiquei com pena de subir no animal, de tão magro que me aparentava. “Xi moço, ele não agüenta meu peso não”. O rapaz refutou: “Agüenta! E vê se não faz desfeita com a Gisele”.
“Como?”, indaguei ao achar engraçado o nome do jegue, que no meu inconsciente era um “macho”. “Gisele, moça. Gisele Bunchen”. Paizão ficou tão emocionado, que resolveu filmar o momento da filha e esposa andando de jegues pelas dunas de Genipabu.
Naquele instante entendi por que o animal levava tantas flores na cabeça. E lá estava eu, juntinha da Gigele. O rapaz me ajudou a subir no animal (arrumaram também um outro animal para minha mãe) e lá estava nós, fazendo pose para a foto. Mas o bichinho começou a descer para o rumo da lagoa e humor deu lugar ao desespero. O rapaz veio correndo para ajudar e já tratei de descer do bicho danado, que segundos antes eu elogiava, como “gracinha’.
Mais na frente, um outro cidadão com cabelo black-power nos aparece com uma bandeira do Brasil e outra do Rio Grande do Norte. E lá vai a família feliz mais uma vez fazer pose para fotos clichês de turistas. Em vez do “x” saiu um olha o jegue e depois de tirar a foto, o figura falou: “essa aí tem que ir pro orgut hein?”. E viva a tecnologia!
Depois, seguimos para as Dunas Douradas, local onde foi gravado o último episódio da novela “o Clone”. Os potiguares ficam todos “plim-plim”, ao dizer, com orgulho que a locação virou um Marrocos do nordeste.
E parecia mesmo. Um oásis “asiático” em terras brasileiras, e a cor da areia faz coerência ao título do local. Umas pessoas com uns sagüis nas mãos e outros com iguanas nos pediam para tirar mais fotos.
Mais uma vez voltava a refletir sobre a população local, que sempre arrumava uma alternativa criativa para ganhar dinheiro e a simpatia do turista. E lá estava eu com a iguana no ombro, réptil bem mansinho e quieto, ao contrário da afoita Gisele há minutos atrás.
Depois do momento “Jade”, Veríssimo nos levou ao destino mais esperado: os esportes praticados na areia: esquibunda e aerobunda. E isso parece ser mais emocionante ainda quando se tem medo de altura. O segredo do primeiro é o seguinte: você desce com um suporte, mas não pode tirar a mão da areia, senão é tombo na certa.
E lá ia eu, irmão e até o pai se arriscou a ir. Mãezona só filmando, não quis se arriscar a tal audácia. Mais na frente, nos deparamos com o aerobunda. O esquema desse, era o seguinte: você desce de avião, retorna de barco e sobe de trem. O “avião” é quando descíamos pelo suporte da corda até o rio, uma espécie de tiroleza.
Voltava de balsa, com o cara da “tecnologia de ponta” quem não sabia nadar à margem e o trem, era uma mecânica bem curiosa que o pessoal inventou para subir os turistas. Naquele caso, tanto pra subir e descer havia uma ajuda “santa”.
Dali, fomos almoçar e começávamos o retorno ao hotel depois de um dia cheio de emoções e, reflexões. Na volta, Veríssimo voltou ao município de Graçandu para pegar uma carteira que uma turista havia esquecido em uma mercearia. O dono do estabelecimento, devolveu o dinheiro ao buggeiro.
Tinha cem reais na carteira. Fiquei admirada com a honestidade do sujeito. Sorte de nós brasileiros se houvesse muitos engravatados do congresso tivessem a mesma honra de um homem do povo.
Ao voltar ao hotel pedimos desculpa, pela sujeira que deixamos no buggy. “Esquenta com a areia não gente. Se não fosse por ela, a gente tava era tudo desempregado”.
Foi nessa hora que lembrei que, além de turista, era também aspirante à jornalista e as linhas dessa história começam a fluir na minha parte consciente. Seria um passeio a mais. Mas, minha visão mudou depois daquela aventura que virou uma lição como ser humano. A melhor maneira de aprender é viajando!
“E na boca um sorriso que deixei, numa das curvas da highway”, estava eu dias depois fazendo a malas de volta para casa. Na bagagem, uma camiseta com o slogan “Hard Forró Cachaça” e ímãs de geladeira de Lampião e Maria Bonita. E finalizo com uma homenagem à todo aquele povo, que não precisa de muito, em termos monetários para viver. Não é por acaso, que é uma cidade literalmente, iluminada.










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