segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Aprendi com o porteiro

Considero insensível dar as costas ao mar, conversar com alguém usando óculos escuros e fechar a janela do avião quando do lado de fora aparece aquela paisagem dignificante. Confesso que fico perdida quando alguém dialoga comigo e me deparo com uma lente escura em vez dos olhos que podem exteriorizar "energia', personalidade, emoções e tantas outras revelações... Ao mesmo tempo quem sou para condenar tais atitudes já que muitas vezes devo ter cometido atos "insensíveis" ??? O porteiro do prédio onde se encontra o Sindicato dos Jornalistas (de Goiânia) que o diga. São as pequenas coisas que fazem grande diferença no relacionamento com o "outro" seja nas relações profissionais, familiares, afetivas, de amizade, etc, etc. Voltemos então ao episódio do porteiro. Dias atrás, lá pelas sete da noite, estava eu no Centro de Goiânia para assistir uma palestra sobre o livro "O destino do jornal", de Lourival Sant´Anna. Avistei o prédio alto e, como não tinha certeza se ali era a sede do sindicato da minha categoria perguntei a um senhor que ali estava se realmente era o local que eu procurava. Ele me confirmou e, preocupada em chegar no horário marcado mal agredeci o sujeito pela informação e entrei praticamente correndo no elevador. Duas horas depois o evento terminou e lá vai a estudante embora pra casa. Na saída encontrei com uma jornalista que me cumprimentou com um "olá" e acenou para o senhor que havia me dado a informação momentos atrás. Animado com a atitude da mulher ele virou pra mim e desabafou: (Agora eu olhava diretamente nos olhos dele): - Sabe filha, de todas as pessoas que passaram por aqui apenas duas me cumprimentaram. Essa aí e aquele da bicicleta. Não vou esquecer o rosto dessas pessoas. Gente assim é raro viu?! Me sentindo a pessoa mais insensível e mal-educada do mundo engoli em seco e perguntei: -Nossa! Quantos anos o senhor trabalha aqui? -Mais de 20 anos filha. E olha que vejo gente de tudo quanto é tipo por aqui. Mas a gente que é simples nem parece gente! Mal olham na minha cara! Fiquei tão sem graça que soltei algo do tipo: "a correria desse mundo é tanta que nem consideramos mais as outras pessoas". O porteiro confirmou com a cabeça e, um carro estaciona e buzina. Era meu irmão, já estava na hora de ir embora. Me despedi do senhor, desejei boa noite e na pressa de ir embora, voltei pra casa sem saber o nome dele. Cheguei em casa e fiquei remoendo a cena na minha cabeça. Me lembrei das aulas de Antropologia sobre a tal invisibilidade social.Longe daqui em esteriotipar pessoas "invísiveis" como vítimas, afinal cada pessoa é um agente social cônscio e provido de direitos e deveres. Apesar de os livros nos ensinar tantas lições, nada melhor do que aprender com a vida, ou com os personagens da vida real. È fácil buscar bodes expiatórios para nossos problemas: a culpa é da pressa, da correria, da ansiedade, do mundo moderno. Mas são nessas imperfeições que a gente aprende, se descobre e evolui como pessoa. Nesse dia o autor do meu texto de estudo não foi um teórico da comunicação ou um professore da faculdade. Aprendi muitas coisas com o porteiro e acho que ele nem se deu conta disso! =D

2 comentários:

Anônimo disse...

Bia!

Os textos são ótimos.
Queremos mais novidades.

Papito

Anônimo disse...

Lembro do dia! Dos óculos escuros e dos salgadinhos do sindicato.